segunda-feira, abril 17, 2006

Andar de metro

Há já bastante tempo que quem anda de metro se habituou a ver muita gente a ler o "Metro" ou o "Destak" com um ar muito compenetrado, muito erudito, pensando, talvez, que esse pequeno gesto a salvaria da mediocridade da classe média que anda de metro às 8.00 da manhã. Nos primeiros tempos, essa nova moda provocava-me um certo desprezo. Agora que já me tinha habituado aos jornais grátis que entopem todos os contentores do lixo ( e bancos e chão e corredores) ainda tenho de levar com anúncios intermináveis ao Rock in rio, um tal de Luís Miguel que é espanhol e canta baladas e o Castelo Branco a rosnar no espectáculo mais degradante de todos os tempo. Tudo isto a juntar ao calor e suor dos primeiros dias de calor, faz-me desejar ir para o "trabalho" cada vez mais tarde...

velhos hábitos

É completamente inaceitável que uma votação da assembleia da república não se realize por falta de deputados. Será que é assim tão difícil alguém assumir as suas responsabilidades? Num país em que a culpa morre sempre solteira, percebe-se mais uma vez que é muito difícil avançar, porque os velhos hábitos continuam a fazer os monges...

quinta-feira, abril 13, 2006

Via democrática

Camarada Morgaine, a via ditatorial não é, nem nunca foi, a via p'ra se chegar à democracia efectiva. O "sistema" em que nos movemos actualmente, ele sim, é uma ditadura disfarçada de democracia formal. Este sistema subsiste pelo facto de estarmos mergulhados num marasmo de anestesia geral (tal como o Carlos referiu, e bem!).
Aquilo a que nós aspiramos, penso que tu também, é a uma democracia em que as vontades e aspirações da maioria, prevaleçam sobre as de uma minoria que, até agora, controla (de forma consciente e/ou incosciente) este mesmo "sistema". Portanto, a esta transformação, não podemos chamar: ditadura.
O caminho da mudança tem que acarretar, obrigatória e simultaneamente, a transformação da idiossincrasia do povo, para que este adira maciçamente, e não pela imposição de modelos de fachada, já gastos.
Exemplos de verdadeiras revoluções na História da humanidade? Pois bem: Rússia, Outubro de 1917; Chile, 1970; Cuba, 1959; etc. etc.. Não há que copiar, há, sim, que inventar novas revoluções.
Digam lá, que isto, não é renovação? :)

P.S.: Sofia, essa de chamares sensível ao australopiteco-troglodita Lobo Antunes, foi gira! :-D

Pensamentos...

Talvez a única maneira de chegar à democracia passe pela criaçõa de um regime ditatorial... Não me orgulho deste pensamento, por isso, caro Gorki, não me leves a mal, bem sabes que no fundo no fundo partilhamos os mesmos sonhos ;)

Eu não grande coisa a discutir política, de modo que quando tentamos arranjar soluções para "tornar o mundo melhor" respondo invariavelmente "educar as pessoas, abrir-lhes os olhos" (e se conseguir convencê-las de que o sacrifício de certos privilégios em prol do grupo traz vantagens para todos tanto melhor).

Esta ideia torna-se ainda mais desejada quando conheço pessoas que não fazem a menor ideia de o que é votar, quando Bush ganha as eleições (e quando vejo pessoas a ler o destak, mas isso é outra história :) )
Não sei como podemos educar as pessoas... toda a gente discute, toda a gente diz que é uma questão de tempo à medida que se vão passando mais anos na escola. Mas surgem gerações atrás de gerações onde os filhos são tão ignorantes como os pais.
Nos meus piores momentos penso que os deveríamos prender a todos e só os soltar quando provassem que eram capazes de tomar decisões (políticas, profissionais, familiares) com discernimento :S

Itália

Sofia, aprecio muito a gesto que tiveste, em tentar tornar o nosso blog um bocado menos político. Espero que não te zangues com o que vou para aqui escrever, mas era o que eu tinha, antes de ver o teu comentário :)

As últimas eleiçõez em Itália foram mais um estranho espectáculo na teatro da democracia: uma diferença de 25.000 votos impediram Berlusconi de chegar ao poder. Ainda bem que não ganhou, "ainda mal" o facto de quase o ter conseguido.
Eu revolto-me muitas vezes quando vejo histórias Fátima Felgueiras-Santuário de Fátima, embora esses momentos de revolta sejam mais breves do que desejaria (o que também me revolta! porque com este tipo de revoltas não se vai a lado nenhum). Mas quando o mesmo estilo de fazer política passa de uma terra inofensiva (não se zanguem, eu também venho de uma linda terra inofensiva) para um parlamento, a história deixa de ser tão hilariante.
Um dia destes assisti a um documentário acerca da ascensão ao poder de Berlusconi e fiquei inquieta: controle directo ou indirecto de grande parte dos canais televisivos (praticamente o único meio de comunicação eficaz em itália), criação de leis que advêm descaradamente em benefício pessoal.
Também inquietante é pensar que tudo isto se passa num estado-membro, sem se ouvirem quaisquer comentários de responsáveis de outros países.
Não devia a diplomacia dar uns puxões de orelhas nos curtos intervalos dos apertos de mão?

quarta-feira, abril 12, 2006

De modo a levar a este espaço para além do desabafo político ( sempre bem vindo) e porque o despertar de conciências me remete para a sensibilidade de António Lobo Antunes, deixo aqui um cheirinho:
"Não sei se acham estranho o que vou dizer; mas há momentos em que sinto as pessoas que morreram ao pé de mim. Um peso de presenças como quando sabemos, por uma diferença, nas costas, que nos observam ao passarmos. Voltamo-nos e é verdade: lá está uma cara fixa na gente que se desvia logo. A cara de um estranho ou de uma estranha que não tornaremos a encontrar"